5 de fev. de 2013

Plasticidade cerebral

Os primeiros resultados de um programa de pesquisas de laboratório atualmente em curso na Universidade de Wisconsin, EUA, sob a direção de Richard Davidson, reunindo neuropsicólogos e monges budistas, revelam que a meditação é muito mais do que uma simples técnica de relaxamento. Mostram que um treinamento regular da mente, através de técnicas de meditação, modifica nossa massa cinzenta, e assim, a maneira através da qual percebemos o mundo dentro e fora de nós.

Esse programa de pesquisas tem a grande colaboração de Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama, chefe do budismo da linha tibetana. Ele se entusiasmou, há cinco anos, ao ter conhecimento de recentes descobertas na área da neurociência, em particular a respeito da maneira através da qual as emoções negativas aparecem no cérebro. Para muitos budistas praticantes regulares da meditação, estados de alma como o ódio, a raiva, a cólera e a inveja constituem sentimentos praticamente desconhecidos. A meditação reforçou neles traços positivos de caráter e de comportamento.

Foi Richard Davidson quem teve a idéia de utilizar instrumental moderno para explorar em laboratório o funcionamento cerebral de alguns desses budistas, com a tomografia por ressonância magnética funcional.

Segundo um dogma neurocientífico fundamental, hoje superado, as conexões neuronais cerebrais seriam estabelecidas durante a infância, e permaneceriam fixas até a morte do indivíduo. Sabe-se hoje que os neurônios se modificam até uma idade bastante avançada, tanto no que diz respeito à sua estrutura quanto ao seu funcionamento. Quando alguém pratica assiduamente um instrumento musical, aprende uma nova língua ou a meditar, as redes neuronais se reforçam e novas conexões se estabelecem. A esse fenômeno dá-se o nome de "plasticidade cerebral".

Desde o início os resultados obtidos em laboratório foram surpreendentes. O primeiro "paciente" investigado, um  lama de um mosteiro na Índia, com mais de 10 mil horas de meditação praticadas. No laboratório, o seu córtex frontal esquerdo - a parte do córtex situada à esquerda e atrás da fronte - se revelou muito mais ativa do que a dos 150 outros "pacientes - testemunhas" testados, que nunca tinham praticado meditação.

As pesquisas começaram a mostrar uma série de outros dados relevantes. Por exemplo, que tais áreas cerebrais são mais ativas em pessoas que conduzem um "estilo de sentimentos positivos", ou seja, nos que são mais alegres e cultivam o bom humor. Por outro lado, notou-se que, nas pessoas de natureza mais pessimista, triste e depressiva, predomina o hemisfério cerebral direito. Os otimistas, os que preferem sorrir para a vida, possuem sempre um córtex cerebral esquerdo mais ativo. Um exame do comportamento dos otimistas revelou também que eles são capazes de superar muito mais rapidamente as emoções negativas que inevitavelmente nos assaltam de vez em quando. Tudo se passa como se um córtex esquerdo mais ativo tivesse a capacidade de inibir os sentimentos negativos. 

Desenvolvendo ainda mais seu programa de pesquisa, Richard Davidson fez uma descoberta ainda mais surpreendente: a serenidade pode ser aprendida, exatamente como se aprende um instrumento musical ou uma disciplina esportiva.

Texto extraído da REVISTA PLANETA - Edição 405 

Nenhum comentário:

Postar um comentário